Sob a água tranquila dos fiordes esconde-se a riqueza dos cardumes de bacalhau. A espécie escolheu aquelas paragens improváveis para a desova de Março e Abril. As ilhas estão aprisionadas numa geografia setentrional, um grau a norte do Círculo Árctico, com as montanhas rudes, o contorno do arquipélago e os vales côncavos desenhados pelo peso dos ancestrais glaciares. A vegetação é rasteira, por vezes não mais do que um tapete de musgos fofos sobre a pedra húmida. Pequenas aldeias piscatórias, de casas de madeira, pontuam a costa crua, que mais parece uma ilustração dos livros de Júlio Verne.
As ilhas Lofoten, ao largo da Noruega, deveriam ser um dos locais mais inóspitos da Terra. Mas ali verifica-se a maior anomalia térmica planetária relativamente à latitude. Seria uma região dominada por neve, frio e noite, mas o Verão é ameno e quase todo o ano se regista um clima relativamente agradável, com poucos dias de temperaturas polares.
O milagre das Lofoten dá pelo nome de Corrente do Atlântico Norte e, sobre as suas águas, paira uma ameaça capaz de matar este pequeno paraíso terrestre. Pela sua fragilidade, o arquipélago norueguês pode sofrer as mais catastróficas consequências do aquecimento global. A corrente atlântica é uma gigantesca circulação de água quente que se desloca milhares de quilómetros desde mares tropicais até às altas latitudes do Oceano Árctico, onde arrefece, após mergulhar nas profundezas, regressando à origem.
À medida que vão compreendendo o funcionamento desta corrente, os cientistas têm percebido que ela está na iminência de ser interrompida pela água doce que resulta da rápida derrocada
dos gelos polares, sob impacto do aquecimento global. A ser assim, haverá extensos estragos na cadeia alimentar do Atlântico e no clima temperado da Europa. As Lofoten serão particularmente afectadas. Paradoxalmente, um inverno de séculos pode tombar sobre as ilhas.
Existe outro perigo, este mais estudado. A economia sempre dependeu dos cardumes de bacalhau. Povoadas por vikings, pelo menos a partir do século VII, os habitantes das Lofoten viviam de uma agricultura precária e, sobretudo, da pesca, que parecia inesgotável.
25 de março de 2012
Sol da meia-noite nas ilhas Lofoten - Noruega
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