22 de abril de 2011

Fuligem pode ser peça-chave para o aquecimento do Ártico

Temperatura da superfície do ar no Ártico tem aumentado cerca de duas vezes mais rápido que a média global ao longo dos últimos anos.


Equipe internacional vai estudar o gelo no Ártico para compreender o rápido aquecimento da região




Uma equipe internacional de pesquisadores está no Ártico em busca de fuligem. Os cientistas acreditam que uma fina camada de fuligem, quase invisível, está fazendo com que o gelo do Ártico absorva mais calor. Eles querem descobrir se esse é o principal motivo para o rápido aquecimento da região, algo que poderá ter, no longo prazo, impacto sobre o clima mundial.
A fuligem é produzida por motores de automóveis e caminhões, emissões de aeronaves, queima de florestas e a utilização de fogões a lenha ou a carvão.“O Ártico serve como um ar condicionado do planeta”, disse Patricia Quinn pesquisadora da Administração Nacional de Atmosfera e Oceano (NOAA, da sigla em inglês). O calor de outras partes da Terra se move para o Ártico por meio da circulação atmosférica e dos oceanos. Parte deste calor é irradiado para o espaço. Ao mesmo tempo, parte do calor vindo do Sol, que tende a ser absorvida em outros locais, é refletida pelo gelo e pela neve, o que permite que regiões polares sirvam como agentes de refrigeração para o planeta.
MudançasNos últimos anos, o Ártico tem se aquecido mais rapidamente que outras regiões. Patrícia aponta que “o aquecimento do Ártico tem implicação não só para ursos polares, mas também para todo o planeta”. O corte de dióxido de carbono e outros gases causadores do efeito estufa é a espinha dorsal de qualquer esforço para combater o aquecimento, tanto globalmente quanto no Ártico, disse Quinn.
Estudos indicam, no entanto, que a diminuição da concentração de poluentes como a fuligem vai reduzir a taxa de aquecimento no Ártico mais rápido que cortes de dióxido de carbono e outros gases causadores do efeito estufa, que duram muito mais tempo na atmosfera. "Esta seria uma forma de ganhar tempo", disse.Em fevereiro, o Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas pediu o corte das emissões de fuligem, entre outras razões por ameaçar a saúde humana e pelo aquecimento causado nas regiões polares.
O Conselho do Ártico, que conta com representantes dos oito países que fazem fronteira com a região, está decidindo como garantir que outras nações reduzam a emissão de fuligem e vai usar dados do projeto internacional em suas deliberações. Várias frentesOs cientistas vão rastrear o movimento de carbono através da atmosfera, do seu depósito nas superfícies de neve e gelo, e seu efeito sobre o aquecimento no Ártico. Duas aeronaves não tripuladas da NOAA vão coletar aerossóis de fuligem no ar, e uma embarcação norueguesa irá estudar a reflexão da superfície. Os pesquisadores também vão recolher amostras de neve e enviar balões para estudar a química da atmosfera.
A fuligem aquece a atmosfera, pois absorve o calor do Sol. E embora possa não ser visível como uma cicatriz escura sobre a neve, mesmo um pouco de fuligem pode significar que menos energia é refletida.
Tim Bates, que também trabalha na NOAA, comparou o processo ao ato de vestir uma camisa preta em um dia ensolarado. "Se quiser se refrescar, o ideal é usar uma camisa de cor clara, que reflete o calor do sol", disse. Quando o carbono cobre a neve ou o gelo, a radiação é absorvida ao invés de ser refletida.
A temperatura da superfície do ar no Ártico tem aumentado cerca de duas vezes mais rápido que a média global ao longo dos últimos 100 anos. "Nos últimos 50 anos, a a média anual de temperatura tem aumentado de 2 a 3 graus Celsius no Alasca e na Sibéria, enquanto que a média anual do planeta aumentou cerca de 0,7 grau Celsius neste mesmo período”, disse Patrícia.
O aquecimento do Ártico vem resultando no adiantamento da primavera, uma maior temporada de derretimento e na diminuição das extensões de gelo, disse a pesquisadora. Isto causa preocupação a respeito dos ursos polares, que dependem do gelo para caçar. O problema do aquecimento é agravado porque, quando a neve e o gelo, que são altamente reflexivos, derretem, as superfícies escuras da terra e do mar que estavam abaixo passam a absorver calor, intensificando desta forma o aquecimento da atmosfera.
Jack Dibb, um químico atmosférico da Universidade de New Hampshire, acredita que o maior efeito da fuligem no Ártico seja o aquecimento causado pelas partículas em suspensão na atmosfera. Elas também reduzem o poder de reflexão do gelo e da neve o suficiente para causar o aquecimento. (Com informação da AP)

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