A hipótese de que um raio tenha sido o responsável pelo acidente com o avião da Aires Airlines que caiu na ilha colombiana de San Andrés nesta segunda-feira (16/08/10) é considerada altamente improvável dizem os especialistas em aviação.
De acordo com relatos da polícia colombiana e do piloto da aeronave, o Boeing 737-700, que carregava 131 passageiros, a aeronave foi atingida por um raio quando estava a cerca de 80 m da cabeceira da pista do aeroporto. A aeronave caiu e se partiu em três pedaços, matando ao menos uma pessoa e ferindo outras 120.
Para o comandante e especialista em aviação Ronaldo Jenkins, a probabilidade de um raio afetar um avião a ponto de derrubá-lo é "muito, muito remota".
- Não há precedentes de um raio ser o único responsável pela queda de um avião. A aeronave atua como um condutor. O raio passa pela periferia dela e vai embora.
De acordo com o especialista da consultoria Air Safety Luiz Alberto de Athayde Bohrer, ainda que o raio tenha afetado temporariamente os instrumentos de navegação do Boeing, a hipótese de que isso tenha causado a queda também é remota.
- O avião já estava perto da cabeceira da pista. Se perdesse os instrumentos, isso não faria tanta diferença.
Para Jenkins, "não tem o menor cabimento afirmar que o avião foi partido em três pedaços por um raio", como chegou a ser noticiado pela imprensa colombiana.
Bohrer afirma que mesmo aviões mais antigos que o Boeing 737-700, possuem sistemas condutores de eletricidade que fazem com que a descarga passe ao redor do avião e volte para o ar. O raio deixa no máximo uma marquinha na fuselagem.
Ambos os especialistas dizem que é prematuro afirmar o que causou a queda.
De acordo com a imprensa colombiana, o tempo no momento do pouso estava ruim e o aeroporto era atingido por chuva e ventos. As autoridades de aviação civil e a Força Aérea da Colômbia informaram que já iniciaram a investigação das causas do acidente.
Na opinião de especialistas em meteorologia, acidentes aéreos acontecem com certa regularidade por diversas causas, inclusive por raios.
"Não dá para brincar com a natureza", afirmou o meteorologista José Felipe Farias, do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Ceptec),do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Segundo Farias, os raios e outros fenômenos naturais, dependendo da sua intensidade, são capazes de desestabilizar qualquer aeronave. "Por mais que o piloto tenha experiência e receba os boletins meteorológicos, uma tempestade com raios e ventos pode surpreender toda a tripulação", afirmou.
O engenheiro elétrico Artur Araújo é mais categórico. "Um raio pode, sim, derrubar um avião". Ele explica que a descarga elétrica pode atingir a fuselagem, danificar um sistema elétrico, por exemplo, e provocar uma pane na aeronave. Quando isso ocorre, a habilidade do piloto é fator decisivo para evitar uma catástrofe.
Segundo o engenheiro aeronáutico Rogério Coimbra, professor da Universidade de Taubaté (Unitan), os aviões são projetados para suportar os impactos provocados pelos raios, e seus componentes são protegidos para que não sejam danificados. A proteção extra ainda não impede que a fuselagem seja furada, o que não impossibilita o piloto de conduzir o avião em segurança até um aeroporto. Coimbra explicou que o tanque de combustível e todo o sistema de abastecimento é o ponto mais vulnerável do avião, quando atingido por um raio. Ao contato com a descarga elétrica, o combustível pode pegar fogo ou explodir, se o tanque não estiver cheio. "Isso seria uma catástrofe."
22 de agosto de 2010
Raios derrubam aviões? Tire suas conclusões.
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